sábado, 3 de dezembro de 2011

Mulher Forte

Carlos Magno mandava ensinar as suas filhas todo o trabalho manual, e perguntando-selhe a razão disto, respondeu: - “É, primeiro, para lhes evitar a curiosidade, e depois, não podemos garantir-vos contra os golpes da sorte, se alguma vez a adversidade as ferir, terão um meio de preverem as suas necessidades”.

As razões de Carlos Magno são sérias e profundas; meditai-as alguns instantes comigo. Primeiramente é essencial evitar a mulher à ociosidade, porque é a mãe de todos os vícios. A mulher ociosa experimenta a necessidade de sair de casa e de passear por toda a parte a sua inação; sem este cuidado, que se lhe torna uma necessidade desgraçada, abafaria em casa.

Mas, saindo, fere a caridade, cria inimigos, divulga os segredos de família e comete uma multidão de imprudências pelas palavras e ações, e quando se recolhe vai mais doente do que quando saíra. É a ociosidade a que, arrancando a mulher ao seu centro e criando-lhe urgências externas, introduz no lar a mais completa desordem, a mais deplorável negligência. Tudo se entrega aos criados-serviços e crianças; tudo se deteriora física e moralmente; o marido descontenta-se; nada avança, vai tudo em debandada, e o interior da família, que deveria ser um ninho de amor e de repouso, torna-se insuportável para todos!

Os maus pensamentos também tomam facílimo nascimento em uma alma entregue a ociosidade, e esta semente perigosa espalha-se e pulula em breve como as parasitas em um jardim abandonado. Um momento chega em que a mulher cai: ignora-se como, e nem ela própria sabe. A queda foi tão rápida como uma escorregadela no gelo. 

primeira e a principal causa foi à ociosidade. Foi ela que insensivelmente e a maneira de recreio, conduziu a alma ao canteiro verdejante, o canteiro tinha em alguns pontos inclinação para os precipícios; um passo bastou, e, uma vez no declive, rola-se, e não há parar.

Um outro inconveniente da ociosidade é o enfado que ela passeia como um véu fúnebre sobre a existência inteira. O trabalho, que é um peso, é, também, uma felicidade.

Substitui a existência, fecunda-a, e a gente sente que vive e é feliz na plenitude desta força vital. Mas o homem ocioso está no vácuo, abafa, estiolam-se-lhe as faculdades, e enervam-se, e ao estilarem-se fazem sofrer uma agonia cruel à alma que se envenena lentamente. Um homem riquíssimo, cuja família conheci, passava uma parte de cada dia a dizer: Como me aborreço! Sou rico e sempre aborrecido! Teria sido muito mais feliz com a pobreza por patrimônio e o trabalho por tesouro!

A causa principal era uma vida sem ocupações, vazia, e recaindo sobre si própria como os ramos de um chorão. A segunda razão dada por Carlos Magno é verdadeiramente admirável na boca deste imperador. Receava que suas filhas empobrecessem um dia, e, queria que estivessem prevenidas contra a miséria. Concebia-se que as testas coroadas da nossa época tivessem esta linguagem, mas que Carlos Magno, à frente de um vasto império, em que as idéias revolucionárias eram desconhecidas, exprima semelhantes temores, eis o que, pelo menos a primeira vista, pode parecer bem extraordinário. Mas este monarca tinha o olhar perspicaz e desconfiado do gênio; como os homens superiores, elevados acima dos outros, sentia mais o vácuo das coisas humanas, tinha pouca confiança na mobilidade das coisas passageiras. Seja como for, o seu conselho é de excessiva utilidade para as gerações atuais. Vivemos em uma época de tal modo atormentada, que uns por um motivo, outros por outro, se podem achar em graves embaraços, e bom é sempre ter várias cordas o seu arco...

Quantas famílias eu conheço eu que tem abençoado a Providência, por lhes ter inspirado o gosto do trabalho, mesmo em dias de prosperidade! Uma hora soou na existência e a família inteira pôde assentar-se à sombra de um talento exercido de há muito tempo, e de uma honesta abundância procurada por antigos e preciosos hábitos. Ninguém podia ter maior certeza no futuro do que Carlos Magno, e uma vez poderoso imperador receava pelo futuro de seus filhos, não vos deixais adormecer, por modo algum; sem que sejais pessimistas, não vos entregueis a uma confiança ilimitada; respeitai para vós e para vossos filhos o trabalho como uma coisa santa, e, ao menos, altamente útil, einspirai sempre em volta de vós o amor das ocupações sérias.

Há uma objeção a que quero responder e então terei ocasião de tirar dela um conselho salutar para vossas almas. Notou-se que os trabalhos manuais, os trabalhos de agulha, em particular, tinham um grande inconveniente para as mulheres e era que a cabeça caminhava ainda mais depressa que o instrumento; a cada golpe da agulha a imaginação efervescente andava vários quilômetros, e, muitas vezes em países áridos, doentios, ou sob uma atmosfera abafadiça; o cérebro excita-se os nervos sobem, e deste modo, o trabalho manual apresenta dupla fatiga. (Jornal de M.elle Eugenie de Guerin). Outrora, quando a piedade reinava nas almas e as faculdades estavam equilibradas pela tranqüilidade da fé, o trabalho das mulheres não tinha este perigo, ou pelo menos não o tinha em tão elevado grau; as almas abertas tinham sempre sítios verdejantes para descansarem; as penetrações da agulha apenas fatigavam a mão, e em conseqüência de um exercício prolongado. 

Hoje, que as imaginações são exaltadas por mil criações das cabeças em movimento, e, muitas vezes, pelas leituras de obras, em que se poderia dizer, que os autores depuseram grânulos de pólvora, que esperam à hora da explosão, entre os espíritos ardentes; hoje, que nem as idéias, nem os sentimentos, nem as convicções estão assentes em certas almas, concebo que uma ocupação puramente manual fatigue e opere reações perigosas em um cérebro já incandescente. E para mal tão sério apenas vejo um remédio.

Sede verdadeiramente cristãs, e não tereis a cada instante a cabeça e o coração como leite sobre o lume; assentai os pensamentos e as afeições na serenidade de uma consciência tranqüila, e podeis crer que o trabalho das mãos não será deste modo, ocasião e origem de vertigens morais, nem de febres da idéia que atormenta a nossa época. Imitai mesmo os nossos bons antepassados. Se a decência e o lugar o permitirem cantai. Trabalhando; não receeis os cânticos alegres e as ingênuas expressões de uma alma feliz. O canto parece ter asas que arrebatam a tristeza e tudo harmonizam.  Mesmo as cabeças desconcertadas. 

Hoje termino por expor ainda alguns pensamentos. - Ocupai-vos seriamente no interior do vosso lar; é certo que não podeis fazer tudo, mas fazei, ao menos, alguma coisa, e quando não façais tudo, lançai a tudo os vossos olhos. Não tenhais como indigno o descer à tulha, ao celeiro, a adega: a vigilância é sempre útil. Fazei compreender aos vossos criados que irradiais luz em toda a casa, que não desconheceis a mínima coisa, que não vos escapa um recanto, que em qualquer ocasião podereis dizer que tal objeto falta em determinado lugar, e que podeis dar-lhes lições práticas sobre as suas diferentes funções. Nada põe tanto em alerta os criados, como esta convicção, e suponho até que, deste modo, tudo se faz sem embaraço, com prudência e caridade. É ainda para se notar, que quando a dona da casa exerce vigilância e atividade, embora não toque em nenhum objeto, há sempre uma circulação de vida, reina sempre um ardor e uma avidez alegre que outra coisa não poderia produzir. É que a mulher forte, segundo a esplendida imagem dos livros santos, é, em verdade, como o sol no interior da casa. Suponde um instante que o astro desaparece subitamente: os objetos da natureza permaneceriam do mesmo modo, mas ainda assim em breve se extinguiriam, secariam e morreriam; faça-se com que o astro reponte no horizonte e tudo renascerá logo, tudo se aquecerá, animará e desenvolverá. 

Do mesmo modo, a mulher ativa e boa, é o sol que reponta nas alturas, projetando pelo rosto a luz em todo o lar: - Sicut sol oriens mundo inm altissimis Dei, sic mulieris bonae species in ornamentum domus ejus. (Ecles. XXVI, 21)

MONSENHOR LANDRIOT - Livro Mulher Forte

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