sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Que é a contrição perfeita?

Contrição é uma dor da alma e uma detestação dos pecados cometidos.
Deve acompanhá-la o propósito, quer dizer, uma firme vontade de emendar a
vida e de não mais pecar. Para que a contrição seja legítima, deve ser interna
e estar na alma, isto é‚ que não seja uma mera expressão feita com os lábios
e sem reflexão: isto seria apenas contrição de boca.

Não é necessário manifestar exteriormente a contrição interna por meio
de suspiros, lágrimas, etc.: tudo isto pode ser sinal de contrição, não é,
porém, sua essência. A essência da contrição está na alma, na vontade, em
afastar-se deveras do pecado e converter-se para Deus.

Além disto, a contrição deve ser geral, quer dizer, deve estender-se a
todos os pecados cometidos ou, pelo menos, a todos os mortais. Deve,
finalmente, ser sobrenatural e não meramente natural, pois esta nada
aproveita.

Segue-se que a contrição, como todo o bem, deve proceder de Deus e da
sua graça, e, com a graça de Deus, desenvolver-se na alma. Porém, não
tenhas receio; basta que a peças, basta que tenhas boa vontade e te
arrependas por algum motivo legítimo, sobrenatural, e Deus te dará a graça
necessária.

Se o motivo se funda na natureza ou somente na razão (por exemplo, nos
danos temporais, na vergonha, doença, etc.), é muito fácil que a dor seja
puramente natural e sem mérito; porém, se o motivo da contrição é alguma
verdade da Fé, por exemplo: o inferno, o purgatório, o céu, Deus, etc., então a
contrição é legítima, sobrenatural.


E esta contrição legítima e sobrenatural pode, por sua vez, ser de duas
classes: perfeita e imperfeita; e com isto temos chegado a nossa matéria da
contrição perfeita.

Em poucas palavras, contrição perfeita é a contrição que procede de
amor; imperfeita, a que procede do temor de Deus.

É contrição perfeita quando procede de amor perfeito a Deus. Pois bem, o
nosso amor a Deus é perfeito quando o amamos porque Ele é em Si
infinitamente perfeito, formoso e bom (amor de benevolência), e porque nos
mostrou de uma maneira tão admirável o seu amor (amor de agradecimento).
É imperfeito o amor de Deus quando o amamos porque esperamos
alguma coisa dEle. De modo que, com o amor imperfeito, pensamos
sobretudo nos dons; com o perfeito, na bondade do dador; com o amor
imperfeito, amamos mais os dons; com o perfeito amamos mais o dador, e
isto não tanto pelos seus dons como pelo amor e bondade que nos dons se
manifesta.

Do amor nasce a contrição. Será, pois, perfeita a contrição se nos
arrependermos dos pecados por amor perfeito de Deus, quer seja de
benevolência quer de agradecimento. Será imperfeita se nos arrependermos
dos pecados por temor de Deus, porque pelo pecado perdemos a
recompensa de Deus, o Céu, e merecemos seu castigo, o inferno ou o
purgatório.
Na contrição imperfeita, fixamo-nos principalmente em nós e nas
desgraças que, segundo a Fé nos ensina, nos acarretou o pecado. Na
contrição perfeita, fixamo-nos sobretudo em Deus, na sua grandeza, na sua
formosura, amor e bondade, vendo quanto o pecado O ofende, e que foi o
pecado que Lhe ocasionou tantos sofrimentos e dores para nos redimir. Na
contrição perfeita, não queremos unicamente o nosso bem, senão o bem de
Deus.

 Com um exemplo o verás melhor. Quando São Pedro negou o Divino
Salvador, saiu fora e “chorou amargamente” (I Lc 22,62). — Por que chora
São Pedro? É, porventura, pensando na vergonha que vai ter diante dos
outros apóstolos? Se assim fosse, a sua dor teria sido puramente natural e
sem mérito. É porque receia que seu Divino Mestre lhe tire, como ele merece,
o cargo de Apóstolo e Superior e o expulse do seu reino? Então seria boa
contrição, mas somente imperfeita. Mas, não; Pedro arrepende-se e chora,
antes de tudo, porque ofendeu a seu amado Mestre, tão bom, tão santo, tão
digno de ser amado e por ser tão desagradecido ao seu imenso amor por ele.
Tem, pois, verdadeira e perfeita contrição.

Agora dize-me: tens tu também, cristão de minha alma, algum
fundamento, algum motivo, parecido com o de São Pedro, para te
arrependeres dos teus pecados por amor, e por amor perfeito e agradecido?
Sim, certamente, pois os benefícios que Deus te tem feito são mais que os
cabelos da tua cabeça, e, considerando-os, podes dizer, em cada um deles, o
que dizia São João: “Amemos a Deus já que Ele nos amou primeiro” (I Jo 4,19).

E como te amou?
“Com amor eterno te amei — disse Ele — e me compadeci de ti e te atrai
a mim” (Jer 31,3).

Sim, com amor eterno te amou. Desde toda a eternidade, desde quando
ainda não havia nem um átomo de ti sobre a terra, te olhou com aqueles seus
olhos amorosos e que tudo penetram, e te preparou alma e corpo, céu e terra,
com o amor com que uma mãe prepara todo o necessário para o filhinho que
ainda não nasceu. Ele deu-te a saúde e a vida, Ele te deu e te dá, em cada
dia, todos os bens naturais. Consideração esta que até aos pagãos pode
fazê-los chegar ao conhecimento e amor perfeito de Deus; quanto mais a ti,
cristão, que conheces outro gênero muito diferente de amor e de bondade, o

amor e bondade sobrenatural de Deus para contigo; porque Deus se
compadeceu de ti; e quando, com todo o gênero humano, estavas condenado
pela culpa original, Deus enviou o seu Unigênito Filho, e Ele se fez teu
Salvador e te remiu com seu sangue, morrendo na Cruz. E em ti pensava com
entranhado amor quando agonizava no horto das Oliveiras, e quando
derramava o seu sangue com os açoites e os espinhos, e quando subia
arrastando a pesada Cruz pelo longo e áspero caminho do Calvário; e
quando, cravado nela, se desfazia em sangue entre indizíveis tormentos. Em
ti pensava com entranhado amor, como se tu foras o único homem da terra.
Que tens a concluir daqui? “Amemos a Deus já que Ele nos amou
primeiro” (I Jo 4,19).

E Deus te atraiu a Ele pelo batismo, graça capital e primeira da tua vida, e
pela Igreja, em cujo seio foste então admitido. Quantos há que, só a força de
trabalhos e canseiras, conseguem encontrar a verdadeira Fé, e a ti te a
ofereceu Deus desde o berço, por puro amor. Atraiu-te a Ele e te atrai sempre
pelos sacramentos e pelas inumeráveis graças interiores e exteriores de que
te enche todos os dias, pois, em verdade, estás nadando, como em imenso
mar, na bondade e amor de Deus. E este amor, quer ainda coroá-lo
colocando-te consigo no Céu e fazendo-te eternamente feliz. Que lhe deves
por tanto amor? Não é verdade que deves corresponder a ele? Amemos
também a Deus já que Ele nos amou primeiro.

Pois, vamos a contas e dize-me: Como tens pago a Deus, tão bom e
amoroso, o seu amor e bondade para contigo? Dir-me-ás, sem dúvida, que
com ingratidão e pecados. E pesa-te essa ingratidão? Sem dúvida que sim e
queres ressarcir a tua pesada ingratidão, amando quanto possas tão grande e
amoroso benfeitor. Pois, olha, se assim é, já tens contrição perfeita, contrição
de amor de Deus. Para facilitar, chama-se a esta contrição de amor de Deus,
contrição de amor ou de caridade.

Na mesma contrição de caridade, há uma mais levantada, que é quando
alguém ama a Deus porque Ele é em si infinitamente formoso, glorioso,
perfeito e digno de amor, prescindindo do seu amor e misericórdia para
conosco. Há estrelas — e com esta comparação julgo que entenderás melhor
— que, por estarem muito longe de nós, não as podemos distinguir, e,
contudo, são tão grandes e formosas como o sol, que tão prodigamente nos
dá o calor e a vida. Pois assim, ainda quando o homem não tivesse visto nem
gozado nunca do amor de Deus, eterna estrela do céu, ainda quando Deus
não tivesse criado o mundo nem criatura alguma, seria apesar disso grande,
formoso, glorioso e digno de ser amado, porque é em si mesmo e para si, o
bem mais excelente, o mais perfeito e digno de amor. Isto e não outra coisa
quer dizer essa expressão que, mais de uma vez, terás encontrado nos
devocionários e nas fórmulas do ato de contrição e te terá parecido talvez
algum tanto obscura.

Detém-te, pois, agora e contempla o amor de Deus; contempla-o,
sobretudo, nos amargos sofrimentos do Salvador, a cuja luz o compreenderás
tão facilmente como facilmente te arrebatará o coração.

Eis aqui o modo de alcançar praticamente a contrição perfeita..

J. de Driesch
Sacerdote da Arquidiocese de Colônia

Nenhum comentário:

Curta a página do Grupo Jovem Aliança no Facebook:

Siga o Blog também!

Tags

2012 A favor da vida A Luz tão Imensa que nos Cega a.C. ou d.C. Acampamento de Oração na Comunidade CN aconteceu Acreditar na juventude Adão Advento amigo Ano da fé Ano Novo Aos pés da cruz Ave Basta uma Palavra Batismo Bento XVI Carnaval2012 Castidade catecismo jovem Celebramos neste mês... Céu Chiara Ciencia e fé conexão Confirmação conversão Crisma Crisma 2012 Crismados cura e libertação DEUS Deus nos envia a anunciar dignoeocordeiro.tumblr Dom Orani Dos Sermões de São Lourenço de Brindisi Epfania do Senhor Epifania Espírito Santo Estou com Deus? EU TENHO UM CHAMADO Evangelizando na Internet exorcismo Família Frassati Geração Y Igreja JMJ JMJ-Rio2013 Jovem Aliança - JA Leitura de Hoje LogoJMJ Maio mês de Maria Missão Música No dia-a-dia... Nossa Missão é evangelizar Nossa Senhora O Imenso Amor do Pai o que um sacerdote representa para o homem Oitavas de Natal Oração Papa para impactar esta geração foi que eu nasci Paresia Pe Pio Pecado PHN Pregação/Homilia Quaresma que os santos sejam pessoas que todos sejam um Recomeço Recomeço é Conversão redes sociais Religião Retiros e Eventos Revolução Jesus Rio2013 Sacerdote sacramento SANTIDADE Santo Agostinho Santo do Dia Santo Efrém São Sebastião 2012 São Tomas de Aquino SÉCULO XXI Semana da Unidade dos cristãos Semana Santa Ser Católico Ser Jovem Ser Santo sem deixar de ser Jovem Superstição Testemunho Todos os santos Verdadeiro Sentido do Natal Video vocação WEBTVCN ao vivo Youcat