The Golden Globe goes to ‘The Social Network’. Com essas palavras o ator Michael Douglas entregava ontem um dos quatro Globos de Ouro ao filme “A Rede Social”, que trata da história do Facebook, rede na qual – depois de muito relutar – resolvi nestes últimos dias abrir uma conta, motivado em grande parte por poder reecontrar os amigos de outros países com os quais tinha perdido praticamente todo o contato.Adicionando um amigo aqui e acolá, e recebendo convites de pessoas as quais nunca antes tinha visto, voltei a refletir sobre um texto, cujo excerto publiquei aqui no blog meses atrás. Tratava-se de uma entrevista com Eric Schmidt, presidente da Google publicada no jornal La Vanguardia, de Barcelona. Na continuação do texto então postado, se dizia: É perigoso estar tão mapeado, mas estaremos ainda mais. Google destruiu enciclopédias que dormem para sempre nas estantes, nos oferece gratuitamente o correio eletrônico global, não pagamos nada, mas tem um grande potencial econômico à custa de nossas atividades na rede. Podemos saber quase tudo acerca de todos.
Sr. Schmidt é, ao menos, sincero: “não creio que a sociedade entendeu o que acontece quando tudo é acessível, conhecível, gravado por todo o mundo sempre e em todo lugar. Penso que, como sociedade, devemos pensar sobre todas estas realidades. Nestes momentos sabemos – nos diz – quem são os usuários, o que lhes interessa, quem são seus amigos…”
(…) Há mais poder em uma destas empresas que no serviços de inteligência do Estado Maior do país mais poderoso da terra. Temos a confiança em que nossos dados não serão utilizados. Que grande ingenuidade!
Em nome da liberdade para cultivar relações, podemos ser vítimas dela. Quem garante que o amigo 349 não vai utilizar nossos dados? Certamente, temos que refletir e muito sobre a realidade na que nos movemos. Uma pessoa que exibe sua intimidade a todos, deixa de ter intimidade. É cativo dela. Pode converter-se em um robô inteligente, mas robô, manejado com um controle remoto.
Uma pergunta: pode-se ter mil ou dez mil amigos? Que conceito tão desproporcionado de amizade, tão pouco humano, tão virtual. O Big Brother orwelliano é por agora uma empresa que pretende obter o maior benefício possível. Mas, se um dia, por razões de segurança nacional ou internacional, em caso de guerra, é confiscada por um governo, podemos ser vítimas de nossa sinceridade ao entregar todos os dados que poderão ser utilizados contra nós.
São questões muito interessantes as que Schmidt toca. Entre outras – em distintas palavras – o tema do pudor, virtude quase esquecida, que preserva nossa intimidade, cada vez mais exposta também nestes novos meios. Destacaria, no entanto, a pergunta que ele faz na entrevista: “Pode-se ter mil ou dez mil amigos?”.
É interessante ver o frenesi com o qual muitos buscam aumentar o número de “amigos” adicionados nestas redes. Não descarto o valor da internet quando se trata de novas amizades verdadeiras. Eu mesmo já fiz grandes amigos através, por exemplo, de lista privada de e-mail’s. Já cheguei até mesmo a assistir um casamento de dois jovens – bons católicos – que se conheceram num chat. Enfim, o que questiono é pensar que o número absurdo de “amigos” corresponda a uma realidade. Teria sentido uma pessoa regozijar-se por ter quinhentos ou mil “amigos” adicionados em sua conta? Pode alguém confiar sua alma a tantas pessoas, e bem conhecê-las?
Gostaria de terminar recordando – nunca é demais – que as amizades não se contam pelo número de seguidores na rede, mas pela presença efetiva que uma pessoa tem em nossas vidas. E isso costuma ser inversamente proporcional aos números de amigos virtuais…"
Este texto foi retirado do blog do @pedemetrio
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