Voltemos à
noite do Sábado Santo. No Credo professamos a respeito do caminho de Cristo:
“Desceu à mansão dos mortos”. O que acontece então? Visto que não conhecemos o
mundo da morte, podemos representar este processo de superação da morte somente
com imagens que permanecem sempre pouco apropriadas.
Porém, com toda a sua
insuficiência, elas nos ajudam a entender algo do mistério. A liturgia aplica à
descida de Jesus na noite da morte a palavra do Sl 24
[23]: “Levantai, ó pórticos, os vossos frontais, levantai-vos, ó pórticos
eternos!” A porta da morte está fechada, ninguém dali pode voltar para trás.
Não existe uma chave para esta porta férrea.

Ele encontra Adão e todos os
homens que esperam na noite da morte. À sua vista parece até ouvir a oração de
Jonas: “Clamei a vós do meio da morada dos mortos, e ouvistes a minha voz” (Jn 2, 3). O Filho de Deus na encarnação
fez-se uma só coisa com o ser humano – com Adão. Mas só naquele momento, em que
cumpre o extremo ato de amor descendo na noite da morte, Ele cumpre o caminho
da encarnação. Com a sua morte Ele leva Adão pela mão, leva todos os homens em
expectativa para a luz.
Contudo, agora, pode-se perguntar:
Mas o que significa esta imagem? Que novidade realmente aconteceu ali através
de Cristo? Sendo a alma do homem por si própria imortal desde a criação, qual
foi a novidade que Cristo trouxe?
Sim, a alma é imortal, porque o
homem de forma singular está na memória e no amor de Deus, mesmo depois da sua
queda. Mas a sua força não basta para elevar-se até Deus. Não temos asas que
poderiam levar-nos até aquela altura. Porém, nada pode contentar o homem
eternamente, se não o estar com Deus.
Uma eternidade sem esta união
com Deus seria uma condenação. O homem não consegue chegar ao alto, mas
deseja-o: “Clamei a vós…” Só o Cristo ressuscitado pode elevar-nos até à união
com Deus, onde nossas forças não podem chegar.
Ele carrega realmente a ovelha
perdida sobre os seus ombros e a leva para casa. Vivemos sustentados pelo seu
Corpo, e em comunhão com o seu Corpo alcançamos o coração de Deus. E só assim a
morte é vencida, somos livres e nossa vida é esperança.
Bento XVI
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