“Em si mesmas, as paixões não são boas nem más” (CIC 1767). Tais disposições naturais se originam no coração e se tornam ponte que liga a vida sensível com a vida do espírito.
As paixões podem ser para o bem ou para o mal. Quando a paixão está sob a guia da vontade humana e é devidamente orientada para o bem de si mesmo e do outro, então é uma paixão boa.
Diz o Catecismo ainda que “a paixão mais fundamental é o amor provocado pela atração do bem. O amor causa o desejo do bem ausente e a esperança de consegui-lo. Este movimento se completa no prazer e na alegria do bem possuido. (…) As paixões são más se o amor é mau, boas se o amor é bom” (cf. CIC, 1763-1766).
“Afastai-vos das humanas paixões que fazem guerra contra vós mesmos” (2 Pe 2,11).
Não precisamos de uma profunda reflexão para compreendermos esta recomendação das Sagradas Escrituras, pois temos consciência e experiência da força avassaladora quando nossas paixões não estão guiadas e ordenadas para o bem.
Quando nossas paixões estão desregradas, fora do alvo e do objeto que corresponde ao que Deus deseja para nós, seja pela razão ilumidada pela fé ou pela lei natural que nos inclina para o bom, bem sabemos que ficamos enfraquecidos na vontade, vulneráveis às ciladas do mal e assim comprometemos o melhor de nossas energias psíquicas e afetivas.
As paixões podem nos cegar o coração e obscurecer a luz da razão, levando-nos dos hábitos ao vício da gula, do consumo, do sexo, do fazer e até mesmo do lazer.
Quando as boas energias das paixões se desajustam dentro de nós, podemos facilmente experimentar o vazio, a raiva, os ciúmes, as crises de baixa estima e até o desejo de violência, fazendo das nossas faculdades e sentidos um instrumento para se buscar comprensações. Lembramos aqui de Santa Teresa de Ávila nos seus longos anos de vida mesquinha e entregue às suas paixões, mesmo dentro da vida religiosa. A imaginação, dizia a santa carmelita, torna-se então a louca da casa.
A ordem das nossas paixões não depende simplesmente de nossas forças humanas. É indispensável o exercício do crescer nas virtudes, mas, sobretudo, do se deixar conduzir pelo próprio Espírito Santo que realiza sua obra mobilizando o ser inteiro, inclusive as dores, os medos e as tristezas (CIC, 1769).
O desejo mais sensível do homem é pela felicidade, e esse desejo se origina na aspiração que tem o homem por Deus: “Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo” (Sl 84,3). “É a tua face, Senhor, que eu procuro!” (Sl 27,8).
A melhor maneira de vivermos o equilíbrio e de colaborar com que nossas melhores energias não sejam “a louca da casa” é mesmo nos deixando guiar pela razão e pela fé.
Antonio Marcos
Com. Shalom
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